Não me olha.

A casa inteira caiu. Começou pelo teto, escorreu pelas paredes, sujou os armários e abriu um buraco no chão.

Ele me encarava de baixo e não era do jeito que eu costumava gostar. Suas mãos desmancharam de tijolo a tijolo toda a certeza que era só minha. Meus sentimentos se misturam no cimento do nó da sua mão na minha cara. Não. Eu não vou mentir dessa vez. Ele não me bateu. Não com as mãos, sei que se eu falar que me bateu com as palavras vai ficar parecendo um folheto daqueles poetas do masp que a gente compra por dó.

Eu não tenho mais dó de ninguém. As pessoas não são más, só estão perdidas é a puta que pariu. Eu vi de perto os olhos de fogo de quem sabe o que faz. De peito aberto a fumaça entrou e não saiu mais. Eu ainda queimo. As vezes. Depende.

É como faísca. Uma palavra, uma música, um perfume faz com que tudo se perca e eu não sei dizer mais nada. Meu rosto inteiro molhado busca a superfície.

Mas a casa caiu.

Começou pelo teto, escorreu pelas paredes, sujou os armários e me derrubou no chão.

Mas eu volto.

Não duvida não.

Não tem casa, não tem tapa, não tem fogo que tire de mim a força que minha avó me passou. A dureza que minha mãe me ensinou. A leveza da risada do meu pai e a lealdade cega do meu irmão.

Pode mexer, pode derrubar

Mas, pro seu bem, torce pra eu não voltar.

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