Tenho mania de colocar ‘hahaha’ depois de todas as mensagens. Não sei direito o porque, pensei nisso hoje de manhã. Coloco ‘.’ para mostrar que estou brava. Como se minha escrita passiva-agressiva não fizesse isso sozinha.
Parei na janela hoje de manhã ouvindo uma cantora nova, dessas que pegam na alma. Tem um friozinho gelado batendo no coração e um monte de minhocas se revirando no meu estômago. É, minhocas. Borboleta é coisa de adolescente. Então, as minhocas. Vi em uma notícia, dessas que aparecem sei lá da onde no nosso feed, que se você alimenta-las por 30 dias seguidos com coisas saudáveis elas soltam um trequinho para misturar na terra para as plantas crescerem bonitas. Coisas saudáveis são difíceis de encontrar.
Mentira.
Eu queria borboletas.
Em dias assim, meu coração bate sete vezes mais rápido que o normal. As mãos tremem e meu rosto procura o sol. Dá um alívio por cerca de seis minutos. Dentro desse espaço tempo até que é bom mas aí volta, sabe?
Apareçam formigas aqui em casa e ainda não descobri de onde elas vem. Aparecem no sofá, no meu braço, na minha perna. Deve ser das coisas doces que abandonei por aqui buscando por coisas mais doces ainda. Elas sobem consumindo o que coloco para fora, levando para outro lugar, repassando para as outras e me deixando amarga, desacreditada, medrosa.
Do que? De tudo. Das pontas dos dedo tão geladas, da pilha de roupas em cima da minha cama, da pia cheia de louça, de te deixar entrar. De todas essas palavras que eu jogo sem revisar. É coisa que eu faço, sabe?
Invento borboletas nas costas de minhocas.
*Lockdown/2020.