Papo de meio dia

– Acho que não é pra mim.
– O que?
– O amor.
– Ué, do nada?
– Nunca é do nada, né? Normalmente quando a gente fala essas coisas é pq já pensa há algum tempo e aí  fica pensando tanto que uma hora só escapa, como se quisesse que alguém negasse o que a gente já sabe.
– Você quer que eu negue?
– Não sei. Você quer negar?
– Sei lá, tô comendo macarrão.
– É isso.
– Não me leve a mal, você sempre vem com esse papo como se amar não fosse o que te mantém viva. O viver, o querer viver. Romeu, Mercutio.
– Mesmo assim, não quer dizer que seja pra mim. Tem macarrão na sua camisa.
– Droga.
– Relaxa. Normal. O que não é normal é sempre dar errado. De uma forma ou de outra o que era pra ser chama sempre vira cicatriz.
– Cicatriz sempre gera histórias.
– E eu lá sou escritora pra ficar inventando história?
– Ora, me parece que sim.
– Tem molho no seu queixo.
– Onde?
– Mentira.
– Tem uma cicatriz no seu peito.
– Onde?
– Embaixo da camisa.
– Tira sarro mesmo. O que falta no mundo é gente que acredita que não acreditar vai fazer acontecer. Sabia que quando eu era criança, eu lembro muito bem, olhei pro espelho e perguntei se alguém um dia iria gostar de mim.
– E aí?
– Aí, no dia seguinte, pediram pra ficar comigo!
– Mas isso não quer dizer que a pessoa gostava de você.
– E não gostava mesmo.
– Aí você me perdeu.
– Mas poderia, entende?
– Não muito.
– Enfim, acho que não é pra mim.
– O amor?
– Não. Macarrão. O amor foi feito exatamente pra mim, só se perdeu um pouco no caminho.

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