João achava que sabia de tudo. Que era único. Sabia a hora que o ônibus passava, a última notícia do jornal, a sua música favorita, seu medo mais infantil. E de tanto saber tudo achava que se escondia do mundo. De todo mundo, no caso. Se achava que tão querido, tão divertido, tão esquisitamente diferente que seria coroado, resguardado, protegido.
Mas não foi. Tipos como João nunca são. Quando alguém acha que sabe demais, que decodificou o mundo, reescreveu o futuro, tem sempre alguém que vê de fora. E o que João acha que esconde todo mundo sabe. E o que tudo mundo sabe não é o que João diz.
Dia desses, ele estava pensando em todas as coisas que ainda não vieram, as estradas compartilhadas, as ruas mal iluminadas, sua mãe na cozinha fazendo salada, seu pai na sala vendo o jogo, seu irmão na rua fumando um cigarro. Estava tão crente que crer que sabia bastava, que imaginava os próximos passos de todo mundo e, quando errava, dava chilique, chorava, fazia dar certo. Não respondia, desaparecia, falava errado o horário do ônibus só pra controlar cada pequena certeza que havia criado.
João é feito de barro com ninho de forno, vai assando devagar até ser obrigado a levantar voo. E disso todo mundo sabia e ninguém questionava.
Mas deveria.