Febril

A gente mal tinha aberto os olhos e eu já decidi que seria a última vez. As mãos sujas de sangue contornavam o corpo solitário na banheira. Coloco a culpa nos seus olhos quando sei que os responsáveis são minhas mãos. Veja bem, você me pede meio que como quase sem querer com esses , e eu digo que não, que de novo não, e que não, e que vai ser diferente e que nunca mais. Esses malditos olhos.

Você aprendeu como costurar os pedaços abertos, completando os espaços entre os pontos com areia e água. Se isso não é maldição, só pode ser destino. “Mato e morro” não deveria ser uma promessa, era uma frase solta, uma expressão para encapsular um sentimento forte demais. A gente tende a ligar o forte demais com o fim de uma vida. Que não a sua! Que não a minha!

Não existe absolvição, eu cumpro seus caprichos como se não fossem nada. Mais uma mancha, mais uma banheira, mais um fim. Do quê? De quem? Já não importa o nome, o motivo mesquinho, a história torta sem pé nem cabeça que vai sair dessa boca. Na verdade, não é que não importa. É que não faz diferença quando o final não muda.

Você pede e eu faço, você chora e eu cavo, você ri e eu entrelaço. No fim não tem o que não eu faria para continuar a beijar a pele que despenca dos seus lábios.

Deixe um comentário