Depois da meia noite.

Sua língua desce e sobe pelo meu corpo
Até as mãos formigarem e suas pernas adormecerem
A gente gosta da caça, se provocar é preliminar
Você puxa o meu cabelo e eu mordo a sua boca
Sempre satisfeita
Sua mão na minha bunda me puxa
A gente senta para ficar mais perto, pra ficar mais fundo
Me bate enquanto você entra
Me morde enquanto você sai
Você me despertou a vontade de descobrir
De me soltar, de pedir, de mandar, de obedecer
O desejo escorre por entre minhas coxas
Misturado com o sangue do fogo
Tudo para
Meu olho no seu
Coração doido
Cabeça calmaria
O amor bate mais forte entre as minhas pernas
Como se quiséssemos entrar um no corpo no outro
No calor do quarto, no calor do mar, no calor do álcool
A gente se declara e se envergonha
Tem que esperar o momento certo
Você me come com a força do meu desespero
Eu me entrego com a paciência do seu coração
E em cada gozo único nasce uma estrela com nosso nome.

Pequod

Dormi até chorar quando deveria estar escrevendo sobre Almodôvar e qualquer coisa sobre a mãe de alguém.
Existe um buraco onde moro agora, não sei de onde veio,não sei para onde vai.
É uma festa e eu não conheço ninguém. A pessoa estranha da escola que anda sozinha por não ter opção. Mas eu tenho opção. Não ando só mas só estou.
E eu despiroco sem saber direito o porque e uso qualquer desculpa palpável para tentar entender o que no fundo nem eu sei.

Não desliga por favor! Na verdade,não quero falar agora.

Eu aguentei por tanto tempo e transbordei sem alento.
Tudo bem, tá tudo bem
Relaxa
Se eu precisar eu aviso sim
Fica de boa

Tem uma rede no meu estômago e tudo o que pesquei é de plástico.

Cansada de morrer.

É difícil para alguém que engole as palavras vomita-las de uma vez. É preciso paciência e muitos lenços de papel. A casa vazia, os gatos correndo, eu comigo. Uma estranha e, ao mesmo tempo, tão conhecida. O coração sopra um vento gelado, como se uma janela estivesse aberta esperando a primavera começar. Brotar girassóis da garganta e perder a insegurança de ser pior que quem me cerca. Identifico-me muito com a garota dos sonhos dos millenials, começa divertida, fofa, te mostra um lado do mundo que você não conhecia, é engraçada e impulsiva. Até não mais. Até eu ganhar confiança o suficiente para mostrar um dos meus dragões e viro humana. Sempre fui. Mas não assim. É complicado não se comparar quando palavras de zombaria ecoam nos ouvidos. As mesmas que eu engoli. Dessa forma, desenvolvi a necessidade de agradar todo mundo antes de mim. É foda ser a segunda opção de você mesmo. Eu não sei dizer não. Sim, a psicóloga sabe disso e eu sei que é um problema. É um processo, entende? Eu sei cuidar melhor do outro. Claro. Óbvio. Olhar para dentro dói. Porra, onde foi que eu me perdi? Com quem foi que eu me perdi? Montei uma personagem e vivi como essa persona. Até agora. E é complicado separar o que é real e o que é montagem.

Eu tô cansada de morrer.

Numas.

Eu te enxergava. Você tem o costume de virar o rosto e disfarçar a conversa com qualquer coisa não faça o menor sentido.
Sempre soube o que você sentia mesmo em silêncio. Mas queria ouvir. Precisava acreditar. Tem dia que o corpo todo treme e o mundo me esmaga, as janelas parecem longe demais, os gatos me olham preocupados. Você também me enxerga.
Ainda assim eu sento no braço do sofá encarando o casal do apartamento da frente enquanto fumo um cigarro que já prometi quatro vezes (só no último mês) que não ia mais fumar. Também não aprendi a pontuar. Nada. Evito falar. A coisa não tem volta, sabe? O cérebro guarda tudo e revive mais de mil vezes e tudo o que a gente fala e ouve, gruda.

Igual nossa música.
Igual o cheiro de cigarro no cabelo.
Igual o cheiro dos seus dedos depois de percorrer meu corpo.
Igual o gosto do seu corpo nos meus beijos.

Então evito. Para não estragar nada. Mas ainda assim, é comigo que você está lidando. Eu me conheço. Muito mais do que eu gostaria. É que faz as janelas apertarem. Os gatos se aninharem. É o que te faz ficar?

Tive uma conversa com uma amiga que as pessoas realmente gostam da gente pela impressão e pela referência que passamos para o mundo. É possível gostarem da gente pela gente? Se fossemos um monte de fumaça, sem estilo, sem presença, sem emprego, sem nada. Ainda assim você ficaria? Sei que vai dizer que sim. Mas. Não sei.

As coisas se repetem no meu cérebro como um carrossel. Eu não relaxo. Respira comigo. Eu não relaxo. Você enxerga? Você vê?

Eu não.

Antes de muita coisa

Eu sei que não parece e, sinceramente, eu prefiro que não.

Por fora as marcas são poucas, finas, escondidas nos pulsos e tornozelos.

Tudo o que eu não falei

Tudo o que eu não falei

Tudo o que eu não falei

Pulsa

Grita

Não me deixa dormir

Não me deixa pensar

Aspiro o fogo pra saber se brilho por fora

Entre todas as coisas que eu não falei, essa eu avisei

É questão de tempo pra saber se a sua paz aguenta meu ódio

Se sua paciência é o suficiente pra ouvir meus surtos

Se seu pulmão respira quando o meu sofre

Hoje o dia doeu.

Surpresa.

A rush, a glance, a touch, a dance
Os passarinhos cantavam a cada beijo
O rouxinol, a cotovia, não importa
O cinza lá fora era reflexo da chama de dentro
Reencontro ao fechar os olhos
Guarda baixa, meus pesadelos nos seus braços
Não precisa se defender não, confia
Quando for, promete que volta
Sê livre como nossos pássaros
Como nossos palcos
Uma montagem nova
Sem roteiro certo
O improviso que não entendo
E, sem querer, me entrego.

Ventania.

Desde do ventre sabiam que ia ser tempestade
Da pra ver no escuro dos olhos
A força da natureza da pele preta
Ventania
Filha da inocência
Neta do fogo
A intensidade que desenrola pelos cabelos
A pele tão macia que não parece que grita
É força
É luta
É sonho
É garra
Ventania que
Ao mesmo tempo
Que leva tudo
Se entrega
Inteira.

Quarta.

Beija meu desespero
Enfrenta meu caos
Anda comigo ou solta da minha mão
É uma bagunça o que acontece por dentro
Freak on a leash
Não tem revolta não
Simbiose é amizade
Porto seguro
Dois lados escuros que caminham
Sem se importar com a luz
Tem dias que ardem
Tem ardores que elevam
O coração bate torto
É fraco
É falho
É doido
É maravilhoso
Estar
Vivo
Mesmo
que
doa.

 

478

Som alto
Esqueleto de beija flor
O aperto no peito
478
É o da sorte
Joga no bicho
Não posso
Onde foi?
Não atende
Não responde
Esqueleto de beija flor
As asas não param
O coração não para
4-7-8
Tô tentando
Desculpa
Tô nervosa
4

7

8
O ar escapa pelo nariz ao mesmo que a água chega na garganta
I go back to black
Vai, de novo
478478478478478478
Vai assim mesmo
Força
Esqueleto de qualquer coisa.

Vou fazer outra tattoo,
Alguma coisa que resolva.

Objeto no trilho.

Do Jardim Umarizal para Carlos Berrini.
Assassinato na porta da padaria e acidente de moto na marginal. 
Vi da janela de casa.
Vi da janela do carro.
A CPTM tá cansada e cercada de olhos vorazes.
Qualquer coisa, parceiro, ajuda nois.
Vendo rosa no farol para ajudar lá em casa, sabe como é?
Bala a dois reais para não ter que viver com a sogra.
É correria.
Luciano Huck na tv, Portiolli no youtube.
Lixo na praça de alimentação.
Criança comendo bala.
Não pode, olha o glúten.
Me ajuda a completar a passagem?
Umdois para ajudar a dormir.
Despacito para não pensar.
Cada esquina um sotaque.
Cada sotaque uma história.
Tem amor sim.
Não tem amor não.
Depende de quem vê.
Do Jardim Umarizal para Carlos Berrini.