Cafézinho

Um cafezinho para aquecer qualquer coisa aqui dentro.
O não saber o que sou e o que fazer se abandonar tudo.
Sair correndo!
Para onde?
Fazer o que?
A angústia.
Mais um shot.
Mais um cigarro.
Não fumo mais.
E daí?
Do que importa, afinal?
Um monte de interrogações.
Amigos falam em psicólogos
Respondo em bares
Falam em tempo certo
Não sinto os novos ares
Não fumo mais.
Não bebo mais.
Não sinto mais.

Mentira.

Desde sempre vivo a mesma crise.
Meu espelho me pergunta
Minha metade me pergunta
Meu coração me pergunta
“Que porra você tá fazendo?”
Cansei de esperar o fretado das coisas boas.
Invento mesmo, sabe? Exagero. Desespero.Viro e desviro.
Assim como chegou o furacão, chega a brisa fresca.
E minha mãe me pergunta
A rede social me pergunta
A chefe me pergunta
“O que você tá fazendo?”
Eu não ando entendendo nada.
Não sei ser morna, preciso queimar.

E isso o que eu tô fazendo.

Faz duas semanas que eu praticamente larguei o cigarro. Queimar os pulmões não me faz sentir nada. Nem acordar cedo, nem trabalhar até tarde. Nada além do cansaço natural do corpo. Eu que sempre fui tão ansiosa para que minha vida acontecesse, fiquei com medo que algo realmente aconteça. O susto de um sorriso alheio, […]

Perdi o horário do ônibus e tá chovendo muito forte. Você jogou seu coração na mesa do bar. Eu neguei. Desculpe. Neguei o presente tão sincero. Espero que entenda e que não tenha raiva. E que não julgue. Mas não posso fazer isso de novo. Não agora e não sei quando. Não é algo que […]

É.

É um desespero já conhecido por algo que ainda não conheço.
É Romeu com a arma de Tebaldo na cabeça.
“Either thou, or I, or both, must go with him.”.
É a vontade de pular da sacada e ter asas.
É a gripe que me deixa com cara de poucos amigos.
São os poucos amigos.
É a vontade de fumar.
É a anemia, a preguiça e as olheiras.
“I´m so tired I can´t sleep”
É o arrepio gelado que sobe nas costas e faz tremer as mãos.
É o tempo cinza que eu mais gosto.
“Keep breathing; find a scheme you believe in.”

É a sua falta.

Eu aceito.

A vida tem andado tão doce comigo que sinto como se fosse um pedido de desculpas. Eu as aceito.
Ontem, enquanto você limpava com álcool o corte da minha perna, eu sentia o coração queimando por dentro. Como a música que você tocou no violão. Essa lembrança eu vou levar para sempre. Provavelmente a cicatriz na perna também.

As preocupações vão evaporando e formando desenhos esquisitos no espelho. Pareciam aquelas formas esquistas de cartões psiquiátricos, mas eram bonitas e faziam sentido. E eu vejo com clareza toda a beleza de uma vida ao seu lado. Todos os almoços de domingo, as madrugadas de frio, os beijos de bom dia.

A vida tem andado bonita enquanto rimos com motivo.

Menina clara.

Por cada sorriso ela ganhava um pedaço de céu.
Talvez para se arrepender ou para se prender, vai saber.
Seus olhos tão arrastados insistem em direcionar meu caminho
É tão clara que a pele transparece toda a essência e toda a beleza que meus passos, tão cuidadosamente, seguem.

Essa menina toda perdida bem que podia, por um dia, desfilar na minha avenida.
Ah, eu largaria a bandeira e abriria a porta.
Eu lembro que foi por querer que me deixei esquecer que não podia olhar para você assim, tão de perto.
Que esse tipo de intromissão não tem volta.

Ai Ana, se só dessa vez você ficar, eu monto o desfile inteiro para você dançar.
E faço que fique proibido, no mundo inteiro, o uso de máscaras.
Principalmente se for para brincar.