Você é uma música do Hozier.

Queria escrever sobre você. Algo que te fizesse entender o que bate aqui dentro. Mas não consigo, comecei esse texto três vezes e nada parece certo. Quero colar meu coração no teclado que deixar que ele mesmo diga, que com cada batida ele traga uma nova palavra e outra e outra e que nasça uma nova linguagem capaz de dizer o que quero dizer.

Que seu corpo entrelaçado no meu é certo. Que o sol iluminando seu rosto deixa seus olhos ainda mais lindos. Que toda manhã que você precisa ir é um desespero para que volte de novo. E isso é novo. Quer dizer, não é novo, eu sabia que existia, eu sabia que tava guardado em algum lugar, mas deixar sair assim, não ter medo mais, isso é novo.E eu uso vírgulas demais pq não sei como escrever, não sei como dizer, não sei como pontuar.

Quero segurar meu coração na mão e deixar que ele grite seu nome, que ganhe o espaço que tanto procura para caber tudo o que é seu, pra te entregar todo o meu presente, deixar chegar o futuro.

Dama de copas

E no final do nosso dia choveu, como tende a acontecer depois que o sol machuca nossa pele. Choveu como um pedido de desculpas pelo passado e uma limpeza pro futuro.


Poucas coisas são perfeitamente desenhadas quanto as linhas que formam seu nariz ou a mistura de cores que desaguam nos seus olhos.
Sinto meu peito cheio de coisas que quero te entregar, te mostrar, ao mesmo tempo que não tem coragem de levantar da cama quando te sinto do outro lado.


Poucas coisa se encaixam tão perfeitamente bem quando meu corpo no seu, a sua piada no meu riso, o começo do meu nome e o final do seu.


Que besteira a minha duvidar que você existia.

Pensei na primavera.

O muito não me cabe. O desespero disfarçado de excesso, de essência, a busca incessante pela conquista a qualquer custo. Não importa quem está do outro lado da mesa: eu, ela, ele. Não é a mim, é a sensação de apaziguar uma carência, tampar um buraco, a necessidade do convívio em sociedade que não tem absolutamente nada a ver comigo. Sou inteira mesmo que armada. Não sou troféu de ninguém.

O pouco não me cabe. A indiferença disfarçada de plenitude, educação confundida com emoção, querer o outro bem não é sinônimo de amor é o que te diferencia da brutalidade do resto. Quero poesias, músicas, risadas, piadas de senso duvidoso, que você venha livre e assim permaneça mas que não finja, não se esforce para ficar. Não sou a compaixão de ninguém.

Eu falo, repito, tatuo, atuo e escrevo: o simples é o que mais me derruba. Simples não quer dizer morno, me encanta queimar. Simples quer dizer exatamente o que está escrito mas eu falo, explico, contextualizo e o simples se torna complicado. Não sou a expectativa de ninguém.

Por algum motivo sou romântica, insisto, persisto e deixo vir.

O vazio não me cabe. Sou inteira em cada coisa, no meio da multidão, no caminho pra casa, na inspiração, na mesa do bar. Tenho medo mas não me seguro. Sou minha própria esperança. Em casa me busco na rua me entrego, sorrio pra lua e corro com os meus. Deixo vir. Sou meu próprio universo.

Paloma

Era nova demais quando a barriga começou a crescer. Sabia muito da vida mas quase nada do todo. Desde criança aprendeu que quem não grita não come, foi criada em casa mas é filha da rua. Passou para o bebê toda a força que não sabia guardar. A mesma explosão de raiva que a faz jogar as coisas contra a parede, virou proteção. Uma leoa com os cabelos armados. A mãe do menino que quase nasceu no palco.

Mas não é sobre ele que quero falar. Ela, que passa batom para ficar em casa e ri com a voz rasgada, pega um violão com a corda desgastada, canta e diz que não sabe, sofre e diz que não cabe. Um empurrãozinho e abre a asa igual passarinho. Derruba o teto da varanda com a força do vento, o centro da cidade é um borrão de cimento. Ela volta, coloca o menino nas costas e parte pro mundo, montando um ninho em cada carinho, buscando um espaço que caiba sua juba, suas asas, seus sonhos e um vinho.

É segunda a noite e ela finge que dorme. Com os olhos escondidos mirando a janela, o mundo chama. Eu jogo no vento um sussurro baixinho para que ouça o quanto acredito nela. Ouviu? O mundo chama, não tem culpa quem ama. Ouve e não tem medo não. Sê inteira, sê fogo.

*Lockdown/2020

DM

As vezes a gente entra tão fundo no buraco dos nossos próprios anseios que a vida corre além da caixinha de remédios. Aquela, sabe? Na mesa da cozinha. Que é pra te impedir de pular.
O que a gente não espera é a flor que nasce na nossa espinha, o suporte das raízes.
As letras correm pelo seu corpo, gritando todo o seu passado. Te expondo pro mundo.
Pra renascer colorida e se entregar por inteira ao jardim de sorrisos. Deitar na grama, esquecer a dor para adubar o amor.
Carregar o som dos passarinhos aos ouvidos de todos que sentem sozinhos.
Dores parecidas se reconhecem.
Amores fortes permanecem.
Deixa eu te ver, tira a mão dos olhos.
Mergulha, sente o mundo girar, dos seus pés brotar uma árvore de infinitos, cicatrizes para mostrar que ser forte é se permitir desabar.

Cotovia

Bateu a taquicardia
A conhecida
Cabeça doida
Coração na mão
Acha que incomoda
E você veio
Mansinho
No meio da minha tarja preta
Recitar Romeu e Julieta
Perco um pouco o passo
Não tenho noção do espaço
Você e o cheiro de café passado
Sorte minha cair nos seus braços

13h

Você me enrolou em suas tranças e fez do meu pulmão o seu.

Minhas lágrimas no seu ombro fluiam como tempestade que deixa bravo o mar de dentro.

Todo dia é uma batalha diária, uma guerra inteira em 24 horas. Você tá na linha de frente comigo e só por isso não desisto. Olho pra frente buscando razão, olho pro lado segurando sua mão.

Depois da meia noite.

Sua língua desce e sobe pelo meu corpo
Até as mãos formigarem e suas pernas adormecerem
A gente gosta da caça, se provocar é preliminar
Você puxa o meu cabelo e eu mordo a sua boca
Sempre satisfeita
Sua mão na minha bunda me puxa
A gente senta para ficar mais perto, pra ficar mais fundo
Me bate enquanto você entra
Me morde enquanto você sai
Você me despertou a vontade de descobrir
De me soltar, de pedir, de mandar, de obedecer
O desejo escorre por entre minhas coxas
Misturado com o sangue do fogo
Tudo para
Meu olho no seu
Coração doido
Cabeça calmaria
O amor bate mais forte entre as minhas pernas
Como se quiséssemos entrar um no corpo no outro
No calor do quarto, no calor do mar, no calor do álcool
A gente se declara e se envergonha
Tem que esperar o momento certo
Você me come com a força do meu desespero
Eu me entrego com a paciência do seu coração
E em cada gozo único nasce uma estrela com nosso nome.

Surpresa.

A rush, a glance, a touch, a dance
Os passarinhos cantavam a cada beijo
O rouxinol, a cotovia, não importa
O cinza lá fora era reflexo da chama de dentro
Reencontro ao fechar os olhos
Guarda baixa, meus pesadelos nos seus braços
Não precisa se defender não, confia
Quando for, promete que volta
Sê livre como nossos pássaros
Como nossos palcos
Uma montagem nova
Sem roteiro certo
O improviso que não entendo
E, sem querer, me entrego.