Meia Noite.

Eu vi o mundo renascer de um cobertor
Os olhos, tão escuros, clareando o corredor
Abraços apressados de ‘fica um pouco mais’

Eu vi o mundo reviver em um segurar de mãos
Sua pele, tão branca, escurecendo todos os ‘nãos’
Beijos apaixonados de histórias essenciais

Eu revi o mundo. Eu revi a vida. Eu revi você.

Manuela

Ela olha bem fundo nos olhos
Faz cara de quem não sabe, de quem tem medo
Mas é tão forte que até o céu chove quando existe algum tormento

O jeito que ela anda chama atenção, carrega uma leveza que eu não conhecia
Até então.
Ela é feita para se jogar de cabeça
Não aceita metades, nem meias verdades

O porta retrato quando para na cabeceira
É para ficar a vida inteira
Se Manuela for embora
Ah, meu amigo, eu vou atras
Vendo o carro e tudo o mais.

O céu é tudo aquilo o que você me traz.

O expresso.

O melhor de tudo é que apesar do resto eu estou tranquila.
Fiz questão de deixar para lá toda ansiedade que ofuscava o primeiro plano.
Quero tudo devagarinho para lembrar cada pedaço de tudo o que passar por mim. Bem assim. De provar o gosto do vento que carrega as palavras das pessoas lá fora, de olhar pela janela e me surpreender, de sentir tudo até não caber.
Depois de tanto tempo deitei sem medo, sem saber e sem esperar nada.
Você sabe que eu não sou boa com caminhos mas concordo que é bonito.
Sabe?
Gosto de receber as surpresas que me abraçam bem pertinho.
Foram só vinte e dois!
Hoje é um dia especial de um jeito diferente…me dei de presente uma dança na cozinha e mais uma chance de fazer o que quiser, de respirar bem fundo e deixar molhar.
Que venha o vinte três.
Me ensinar tudo outra vez.

*não tenho nada contra os clichês.

MeiodeMaio.

Agora eu só vou escrever sobre coisas boas,
Tipo aquele moço que dança no meio da avenida.
Aposto que ele ouve essa música que eu te mandei.
Vou sair cantando pelos corredores para apagar o barulho da impressora
Levantar da cadeira, passar o chapéu e coletar sorrisos,
Tô afim de arrancar fora esse casaco e me jogar na fonte.

Só se vive uma vez, ela me disse por mais de uma hora
E eu acreditei como se fosse uma das histórias da minha avó
Usei o mesmo tom, para passar para frente
Todo sopro de flauta e batida de cordão
Do coração
Mas ei, pode chegar que cabe
É, tô falando sério!
Tem um monte de coisa boa querendo te conhecer.
Eu vejo uma alma inteira para eu explorar.

Embaixo da ponte.

Ela é uma daquelas que não basta olhar, tem que entrar embaixo da pele.
Ela não tem título, é feita de detalhes, daqueles que formam os sonhos. Tudo o que é leve demais foge com o vento, ela fica presa entre as entrelinhas. Dentro e fora de casa. Fora e entre os dedos.
Entre meus dedos mora o cheiro do cabelo dela, agora tão meu, mais meu do que dela sou feito disso. Dela. Inteiro. Nem metade nem um terço, um inteiro. Tudo o que eu queria, nesse momento, era morar em seu cabelo, sempre tão macio e tão quente quanto seus braços. Queria um cobertor feito do seu amor, um café da manhã com o cheiro dos seus traços, uma vida inteira de detalhes que se perdem pelo espaço.

18:07

A terra se derreteu em seus braços enquanto seus olhos viravam flores, era a melhor coisa que eu já tive.
Ela é a melhor coisa.
A perdi pras borboletas e para os pássaros, essa menina feita de asas e eu sempre fui terra, molhada, com raízes que saem de mim e voltam num abraço cascudo.
‘Não adianta meu amor, você não vê? Eu nasci para comer seus frutos, me aproveitar da sua doçura e ir embora, é a minha natureza’.
‘Mas você sabia meu bem, que entre meus galhos é o lugar perfeito para montar um ninho?’
Ela repetia que agora não era a hora, justo agora não era a hora. E era assim toda primavera, quando ela chegava, eu dava mais flores do que nunca só para encanta-la, para fazê-la ficar o tempo todo.
Quanto mais flores mais carinhos, já separei os galhos perfeitos para teu ninho, mesmo que não queira, mesmo que não venha.

Liguei-te hoje porque o dia ta lindo lá fora

Aposto que onde você está, o dia está mais lindo ainda.

Já que todas as outras coisas ficam, imediatamente, sem graça.

Por onde você passa.

Pena que só ouvi o som da caixa postal.

Eu sabia, mas mesmo assim cismei.

Imagino todas as pessoas que não conseguem desviar o olhar.

Fico esperando as fotos, as histórias e os planos pros tempo seguintes.

Passou só um dia e já parecem vinte.

Talvez porque você não esteja no mesmo país. Na mesma casa. No mesmo quarto.

Será que você sente?

Todas as vezes que eu fecho os olhos e desejo suas mãos.

Quero ir, quero que volte, quero que veja.

Quero ouvir.

Não sei dançar sem você.

Quando chegar coloca nosso vinil e pega nosso vinho.

Vamos ver a noite passar?

Perdi.
O eclipse, o trem e o relógio
A carteira, os sapatos e os velhos traços
As calças rasgadas, o cabelo vermelho
A paciência.
Perdi.
O sono, o último minuto e uma chave
Um anel, uma caneta e mais uma consulta
Um telefonema, uma oportunidade
A inocência.
Mas.
Ainda tenho minhas asas.

Eu só queria o seu olhar
O sol queima as feridas
Essa vida inconstante
Que me fez romântica
Pronta pra se perder no acaso
Eu só queria o seu olhar
E algumas palavras no espelho do banheiro
Desliga a TV
Desliga a luz
Desliga o sol
Acende o coração.

Alba.

A água desce até as costas
Uma alma encharcada
Sai dessa bolha já tão gasta
Olha para frente…
Olha para mim!
Esquece.
Não é de você.
Esquece.
São as luzes e as risadas.
Cicatriz depois de fechada ainda permanece.

“Deixa de besteira, é Natal.”
“Eu sei, é que saudade não conhece feriado.”