Era noite ou era dia?
Eu não sabia, nem ela. Éramos nós apenas. A janela continuava fechada, o vento continuava batendo.
Não sei quem era ela, nem onde a encontrei mas gostaria que ficasse.
Que ficasse para sempre.
Era noite ou era dia?
Eu estava preso na monotonia, na caminhada, no escritório, na calçada.
Ela acordou do meu lado, eu não lembrava de nada do antes, só queria o agora.
Que já foi.
Junto com ela.
Foi pela noite ou pelo dia?
Não tenho mais coragem de abrir a janela, de deixar a luz entrar.
Perceber que não era nem noite nem era dia.
Que ela não existia.
Foi num sábado.
Levantou voo e tocou o céu
Eu sabia que sempre tinha sido o lugar dela
Um abraço apertado pela cintura fina
Uma mão grande foi à ajuda
A saudade fica
O dia saiu do azul
Os ipês se derramaram em um tapete amarelo
Era possível ver toda a força
Um vento gelado se alojou na espinha.
Foi o reencontro de Romeu e Julieta.
E o público evaporava em lágrimas.
Mas também em sorrisos.
A saudade transborda.
Ciclo.
Minha vida se desfez, derreteu.
Escorreu. Entre as mãos. No chão. Na terra. Nas flores. Nas sombras. No mar.
E evaporou.
Voou. Subiu. Pelas estrelas. Se misturou com os balões de ar.
Virou nuvem.
E choveu. Molhou. Encharcou. Relampejou.
Minha vida renasceu, ressurgiu.
No seu sorriso. No seu abraço. No seu vestígio. No seu encalço.
E se esqueceu.
Do telefone. Do trabalho. Do horário.
E se vestiu.
De flores. De rosas. De aves.
Só para desvestir.
Para ser pura. Para ser nua. Para ser sua.
E poder sentir.
De olhos fechados.
Peito aberto e Coração livre.
A alma acordar.
Variação.
Antes do sol nascer o vento corta o meu rosto.
O café sente meu gosto.
Enquanto o dia vai me descobrindo, o dia vai buzinando.
A noite sou musicista, cantora, modelo e dançarina.
O que for agradar. O que for ajudar.
A espinha congela com um arrepio estranho.
Quatro cobertores.
Você me traz um abraço e uma mão.
Entooei.
Virei corda de coração.
Minha Augusta.
As coisas vão.
Só porque as chamo de “minha”.
As coisas ficam porque permitimos que possam ir, quando quiserem.
E sabem que podem voltar.
Quando quiserem.
O que me emputece é quando as coisas são roubadas.
Seria bonito se fosse pelo vento.
E não pela faca.
Seria bonito se fosse por um beijo.
E não pela raiva.
Amo a vida que volta.
E eu.
Do chão saíram borboletas do tamanho de dinossauros
O mundo se transformou em cores, vivas, fortes, sedentas!
Havia dois lados.
E eu no meio.
O da esquerda colorido.
O da direta era cinza, sépia, marrom e bege.
Não deixavam de se expressar.
E eu no meio. 
Como se visse o nascimento de um arco-íris
Ou de um sorriso
Ou de um amor.
E eu era parte.
Parte do meio.
O cenário abraça a protagonista
Os figurantes são passarinhos
Todos dançam
E eu de frente.
Minhas mãos abraçam seu pescoço.
E eu de frente.
A cor da sua alma
A força dos seus olhos
E eu do lado.
Amarre-me em suas mãos
Voemos, então, junto às borboletas.
E eu do lado.
Foto: Gabriela Bonavita.
Pedaço de Nuvem.
A janela aberta mostra um retrato
Um quadro da alma
Passa, sem pressa
Sem pressa, derrama
A vida que escorreu dali
Saiu de um pedaço de nuvem
Cresceu no asfalto
Mas sabia que era um pedaço azul
Mantem os olhos para o alto
Esperando um sinal
Um vento, um temporal
Mas quem aparece é outro.
Olha! O sol vem gigante
Secar o que molhou
Reviver o que matou
Avisar para quem se esqueceu
Que a alma é feita de algodão.
Ganhando na derrota.
Me lembro da primeira guerra que perdi.
Era uma guerra de cócegas.
Desisti quando meu pulmão fraquejou na busca por ar.
Estou com o sorriso estampado na cara já faz um ano e quatro meses.
Então, resolvi convocar meus dez soldados para uma reunião de emergência. Busquei forças e te declarei guerra de novo!
A batalha foi no sofá da sala e, de tão feroz, fomos parar no tapete, atravessando o montanhoso puff.
Droga, perdi de novo.
Se bem que não posso considerar uma derrota o ressoar do seu riso em meu ouvido.
Porém, já tenho pronta a próxima estratégia!
Vim, novamente, te declarar guerra.
Meu reino pelo seu sorriso.
No caminho
Engraçado como a vida revira minhas entranhas.
Com suas dúvidas tamanhas.
O não e o para que saber.
E ainda assim, o procurar saber.
Ir atrás de cada não
Mesmo na contramão.
Contrariar o trato com o fato
Manchar com tinta o seu retrato.
A gritaria das guitarras
A sujeira das palavras.
Minha alma que se espanta
Cada vez que você canta.
O sabor de todas as plantas
O perecer de todas as rimas.
Roxanne
Ela vivia do avesso, entre caras e tropeços.
E eu já não a impedia de nada.
De quarto em quarto seus olhos se apagam.
Por um bom preço, ela é toda sua.
Sua sala-de-estar, sala-de-fingir, sala-de-se-livrar.
Como um brinquedo velho, ela se esconde pelos cantos enquanto ele se veste.
Enquanto ela se esquece.
Se perde no escuro profundo das almas amarguradas.
E não acha estranho.
Chega a achar bonito se perder desse jeito.
Na hora certa ela vai embora.
E ele não vai precisar ligar de volta.